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Publicada por
José Carlos Sousa
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(brevemente as fotos e mais informação)
Entre os distritos de Braga e Vila Real, onde o Minho e Trás-os-Montes dão as mãos, situam-se as localidades de Sidrós e Salamonde. Foi aqui que os Cinquenta Solas Rotas, afortunadamente, deram largas à imaginação, ao lazer e à descoberta de um trilho com um palato, muito, mas muito, picante.
As curvas e contra curvas, entre descidas pronunciadas e subidas íngremes, dificultam quem as visitam e pronunciam a aridez e dureza de uma região e de um povo que graciosamente dão explicações sui generis, usando o divino as lendas e os mitos. Tudo isto ganha terreno à ciência cabendo-lhe um papel secundário.
Etimologicamente “lenda” provém do latim “legenda”, que significa o que deve ser lido. Fica aqui mais um motivo para a leitura deste relato que promete ser bastante picante.
A pacatez vivida na aldeia de Sidrós foi interrompida pela música pimba (picante) que anunciava festança; curiosamente, não havia ”vivalma”, apenas os Solas Rotas, que pasmadamente tentam perceber o que estava a acontecer e começam a salivar por bifanas e farturas, dispostas em tasquinhas, que só existiam na sua imaginação.
Ainda tão cedo, 10 e pico, e o delírio tocava todos sem exceção, pelo entusiasmo de mais uma aventura.
Porque a longa viagem começa com um passo, logo se partiu, após um breve briefing, em direção a um mundo de referências do nosso património cultural, tangível e não material.
Esperava-nos um acervo riquíssimo, ainda inexplorado, deixado pelos Mouros e outros invasores. Fixaram-se nestas belíssimas encostas, na margem esquerda do Rio Cávado, de frente para a Albufeira de Salamonde e para o Parque Nacional da Peneda Gerês. Não admira a sua escolha. Tudo o que se pisa e os olhares tocam, abre-se, como um livro, com capítulos recheados de enredo e histórias que nos motivam e nos acompanham até ao fim desta caminhada.
Por caminhos ingremes, riscados na serra, encontramos o primeiro ponto de interesse, a “Mesa dos Mouros”. É uma Lage talhada em forma de mesa e com bancos laterais com vista soberba sobre a escarpa do Rio Rabagão. Diz a lenda que existiu neste local um templo, ou povoado, na Idade Média, designado por São João da Misarela. As raízes são ancestrais e mereciam ser estudadas, classificadas e sinalizadas. Encontrá-la foi um autêntico exercício de geocaching.
Descendo pela via empedrada, dos tempos medievais, no sentido da foz do Rio Rabagão, passamos por uma rocha com forma de cabeça humana. Comentários picantes lembraram, com desprezo, alguns políticos de cabeça grande e dura como pedras graníticas.
Rapidamente chegamos a ex-libris mais importante da região: a Ponte da Misarela, também designada pela ponte do Diabo. Do estudo rápido às lendas, conclui-se que há referência a diversos aspetos: Por um lado, a necessidade de batizar as crianças, mesmo que ainda no ventre da mãe, já que a mortalidade infantil era severa e tornava-se necessário acautelar a todo custo a salvação do nascido. Se a criança fosse rapaz deveria chamar-se Gervásio; no caso de ser rapariga, chamar-se-ia Senhorinha.
Por outro lado, a figura do diabo, representando tudo o que de mau existe em oposição à igreja. Depreende-se que estas lendas são explicações que só aparentemente partem do povo mas são para o seu consumo, permitindo-lhes compreender melhor o que os rodeia e encarar a vida com mais esperança. Também aqui ganha o “Bom” ao “Mau”– diz-se que na origem da ponte do diabo está um pacto maldito entre um padre e o próprio lucifer.
A Ponte da Misarela é um local mágico e simbólico do tempo dos Romanos e reconstruída no Séc. XX. Com toda a certeza se pode afirmar que ficava bem em qualquer estampa, capa de fábula ou história de príncipes encantados. Quem ali se desloca, sente o passar dos séculos e facilmente imagina histórias envolvendo todos os que por ali tinham o único trajeto existente de Braga para Chaves. Contudo, verificaram-se aqui muitos factos históricos, por exemplo, no tempo das invasões francesas.
Como diria o José Hermano Saraiva, ainda a propósito da ponte do demónio, “Foi aqui que o general Soult teve dificuldade em fazer deslocar as tropas francesas. Estremeceu perante tão grande obstáculo”. Acrescentaria …. “Só um país triste deixa um monumento tão importante, quase abandonado e esquecido”.
Alguém, ainda, escreveu a propósito das invasões francesas nesta ponte sobre o Rabagão:
“… A ponte estreita e sem parapeitos não podia satisfazer a impaciência dos fugitivos, que se empurravam de tal modo que um grande número de homens foi precipitado e afogado na torrente, ou esmagados sob as patas dos cavalos.
Se os Ingleses estivessem em estado de aproveitar este terror, não sei em verdade o que nos teria acontecido, de tal modo o medo é contagioso mesmo entre os mais bravos soldados``
A música pimba foi tornando-se cada vez mais difusa e mesmo muda aquando do contorno dos meandros da albufeira. Só a voltaríamos a ter como companhia, com o seu conteúdo picante, no regresso de Salamonde.
Até lá, mesmo sem música de fundo, o bailinho da Madeira esteve sempre presente. Não faltou alegria e boa disposição. Nos caminhos estreitos, cada um dos Solas, com os braços no ar, procurava encontrar o melhor passo de dança, enquanto se desviavam dos picos aguçados e secos. Quem dançou melhor foram os companheiros trajados a rigor, com calções. Envolveram-se de tal forma na dança que saltavam, redopiavam, levantavam graciosamente os braços e logo a seguir davam a vez a outro. Assim se fizeram uns bons cinco Quilómetros, quase sempre junto às águas límpidas do Cávado, com os melros pretos de bico amarelo a cantar, dando-nos as boas vindas e divertidos, sobretudo, quando viram o SuperMário a dançar um Slow Fox, inventando um novo passe chamado “Bate Cú, Bate Cú”.
De regresso, de Salamonde para Sidrós, a dança escolhida foi o “Vira Pico”, uma nova versão do “Vira Milho”. Recomenda-se a quem gostar de danças com sabor picante.
Esta caminhada com os Solas Rotas foi lograda de êxito, pela escolha do trilho, pela companhia e riqueza de experiências.
Obrigado a todos os Solas Rotas e as melhoras para o Sérgio.
Venha mais uma. …
Adelino Ramos
Entre os distritos de Braga e Vila Real, onde o Minho e Trás-os-Montes dão as mãos, situam-se as localidades de Sidrós e Salamonde. Foi aqui que os Cinquenta Solas Rotas, afortunadamente, deram largas à imaginação, ao lazer e à descoberta de um trilho com um palato, muito, mas muito, picante.
As curvas e contra curvas, entre descidas pronunciadas e subidas íngremes, dificultam quem as visitam e pronunciam a aridez e dureza de uma região e de um povo que graciosamente dão explicações sui generis, usando o divino as lendas e os mitos. Tudo isto ganha terreno à ciência cabendo-lhe um papel secundário.
Etimologicamente “lenda” provém do latim “legenda”, que significa o que deve ser lido. Fica aqui mais um motivo para a leitura deste relato que promete ser bastante picante.
A pacatez vivida na aldeia de Sidrós foi interrompida pela música pimba (picante) que anunciava festança; curiosamente, não havia ”vivalma”, apenas os Solas Rotas, que pasmadamente tentam perceber o que estava a acontecer e começam a salivar por bifanas e farturas, dispostas em tasquinhas, que só existiam na sua imaginação.
Ainda tão cedo, 10 e pico, e o delírio tocava todos sem exceção, pelo entusiasmo de mais uma aventura.
Porque a longa viagem começa com um passo, logo se partiu, após um breve briefing, em direção a um mundo de referências do nosso património cultural, tangível e não material.
Esperava-nos um acervo riquíssimo, ainda inexplorado, deixado pelos Mouros e outros invasores. Fixaram-se nestas belíssimas encostas, na margem esquerda do Rio Cávado, de frente para a Albufeira de Salamonde e para o Parque Nacional da Peneda Gerês. Não admira a sua escolha. Tudo o que se pisa e os olhares tocam, abre-se, como um livro, com capítulos recheados de enredo e histórias que nos motivam e nos acompanham até ao fim desta caminhada.
Por caminhos ingremes, riscados na serra, encontramos o primeiro ponto de interesse, a “Mesa dos Mouros”. É uma Lage talhada em forma de mesa e com bancos laterais com vista soberba sobre a escarpa do Rio Rabagão. Diz a lenda que existiu neste local um templo, ou povoado, na Idade Média, designado por São João da Misarela. As raízes são ancestrais e mereciam ser estudadas, classificadas e sinalizadas. Encontrá-la foi um autêntico exercício de geocaching.
Descendo pela via empedrada, dos tempos medievais, no sentido da foz do Rio Rabagão, passamos por uma rocha com forma de cabeça humana. Comentários picantes lembraram, com desprezo, alguns políticos de cabeça grande e dura como pedras graníticas.
Rapidamente chegamos a ex-libris mais importante da região: a Ponte da Misarela, também designada pela ponte do Diabo. Do estudo rápido às lendas, conclui-se que há referência a diversos aspetos: Por um lado, a necessidade de batizar as crianças, mesmo que ainda no ventre da mãe, já que a mortalidade infantil era severa e tornava-se necessário acautelar a todo custo a salvação do nascido. Se a criança fosse rapaz deveria chamar-se Gervásio; no caso de ser rapariga, chamar-se-ia Senhorinha.
Por outro lado, a figura do diabo, representando tudo o que de mau existe em oposição à igreja. Depreende-se que estas lendas são explicações que só aparentemente partem do povo mas são para o seu consumo, permitindo-lhes compreender melhor o que os rodeia e encarar a vida com mais esperança. Também aqui ganha o “Bom” ao “Mau”– diz-se que na origem da ponte do diabo está um pacto maldito entre um padre e o próprio lucifer.
A Ponte da Misarela é um local mágico e simbólico do tempo dos Romanos e reconstruída no Séc. XX. Com toda a certeza se pode afirmar que ficava bem em qualquer estampa, capa de fábula ou história de príncipes encantados. Quem ali se desloca, sente o passar dos séculos e facilmente imagina histórias envolvendo todos os que por ali tinham o único trajeto existente de Braga para Chaves. Contudo, verificaram-se aqui muitos factos históricos, por exemplo, no tempo das invasões francesas.
Como diria o José Hermano Saraiva, ainda a propósito da ponte do demónio, “Foi aqui que o general Soult teve dificuldade em fazer deslocar as tropas francesas. Estremeceu perante tão grande obstáculo”. Acrescentaria …. “Só um país triste deixa um monumento tão importante, quase abandonado e esquecido”.
Alguém, ainda, escreveu a propósito das invasões francesas nesta ponte sobre o Rabagão:
“… A ponte estreita e sem parapeitos não podia satisfazer a impaciência dos fugitivos, que se empurravam de tal modo que um grande número de homens foi precipitado e afogado na torrente, ou esmagados sob as patas dos cavalos.
Se os Ingleses estivessem em estado de aproveitar este terror, não sei em verdade o que nos teria acontecido, de tal modo o medo é contagioso mesmo entre os mais bravos soldados``
A música pimba foi tornando-se cada vez mais difusa e mesmo muda aquando do contorno dos meandros da albufeira. Só a voltaríamos a ter como companhia, com o seu conteúdo picante, no regresso de Salamonde.
Até lá, mesmo sem música de fundo, o bailinho da Madeira esteve sempre presente. Não faltou alegria e boa disposição. Nos caminhos estreitos, cada um dos Solas, com os braços no ar, procurava encontrar o melhor passo de dança, enquanto se desviavam dos picos aguçados e secos. Quem dançou melhor foram os companheiros trajados a rigor, com calções. Envolveram-se de tal forma na dança que saltavam, redopiavam, levantavam graciosamente os braços e logo a seguir davam a vez a outro. Assim se fizeram uns bons cinco Quilómetros, quase sempre junto às águas límpidas do Cávado, com os melros pretos de bico amarelo a cantar, dando-nos as boas vindas e divertidos, sobretudo, quando viram o SuperMário a dançar um Slow Fox, inventando um novo passe chamado “Bate Cú, Bate Cú”.
De regresso, de Salamonde para Sidrós, a dança escolhida foi o “Vira Pico”, uma nova versão do “Vira Milho”. Recomenda-se a quem gostar de danças com sabor picante.
Esta caminhada com os Solas Rotas foi lograda de êxito, pela escolha do trilho, pela companhia e riqueza de experiências.
Obrigado a todos os Solas Rotas e as melhoras para o Sérgio.
Venha mais uma. …
Adelino Ramos
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